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Arquitetos: Vier Arquitectos
- Área: 325 m²
- Ano: 2003
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Fotografías:via Vier Arquitectos
Poucas vezes o processo de concepção de uma residência unifamiliar parte das vivências da juventude, das pegadas do lugar, da própria infância. Em algumas oportunidades, o arquiteto pode intervir de algum modo na escolha do local, do terreno, mas isso não é algo frequente. Ainda mais incomum é ter a sorte - como neste caso - da paisagem estar enraizada na infância do arquiteto. Trata-se da entrada do estuário da praia de Miño, em La Coruña. Esta paisagem - vista a partir da ladeira sudoeste da colina - fundamenta a orientação da casa
As reflexões em torno da ideia de uma "casa para toda a vida" determinaram necessariamente a criação de um espaço flexível, facilmente adaptável. Porém, este conceito de casa exige, por sua vez, uma atenção a todos os requisitos de tipo social e cultural que se espera de uma casa contemporânea: conforto, segurança, identidade. A casa deve ser, sobretudo, flexível: seus espaços devem se adaptar sem problemas às necessidades de uso, a possíveis mudanças radicais ou imprevistas; deve responder a uma relação com o exterior imediato e, também, com o mais distante. E deve desenvolver amplamente o vínculo entre seus próprios espaços. Esta casa foi concebida, a princípio, como um diálogo entre dois volumes e o terreno. Trata-se de uma composição simples, com um volume mais alto que esculpe o terreno como um muro de concreto e uma caixa mais leve que se abre ao mar, flutuando sobre pilares metálicos. Os materiais escolhidos ganham com os anos a expressividade de seu próprio envelhecimento, sem acabamentos frágeis que seriam um problema para o clima úmido do litoral.
O volume mais alto de concreto armado é percebido internamente como pétreo, como a lousa que cobre os pisos e banheiros. Este é revestido exteriormente com tábuas de cedro canadense, também utilizadas no jardim. A caixa - de reflexos e transparências sobre pilares metálicos - tem seu interior como um ambiente familiar, unitário, comunicando todos os níveis. No volume alto - o "muro" - a configuração é semelhante em todos os níveis: espaços unitários e núcleo de serviços.
Ao fim, uma casa que resume as vivências da infância e adolescência, onde a recordação do conhecido, da luz, da areia, do mar, da paisagem, das brincadeiras, se fundem com a arquitetura.